sábado, 11 de dezembro de 2010

A Vitória da Quaresma: A Reforma da Cultura Popular


BURKE, Peter. Transformações na cultura popular. In: Cultura Popular na Idade Moderna- Europa, 1500-1800. 2ª ed., São Paulo: Cia das Letras, 1998, p. 280-375.
A vitória da quaresma: a reforma da cultura popular.

De 1500 à 1650 ocorreu a 1ª fase da Reforma Popular, no qual os reformadores tentaram combater o carnaval e a cultura tradicional, omitindo alguns itens desta cultura e sujeitando a população à processos de conversão e de purificação.
A reforma apresentou duas grandes objeções (i) teologia, (ii) moral. A primeira se referia à caça as bruxas, aos costumes pagãos... e a segunda às ações de pecados,vaidades, impurezas... Argumentava-se que no carnaval as pessoas poderiam se entregar à licenciosidade. Isto para os olhos da igreja era algo diabólico, vistos como “ofensivos aos olhos e ouvidos piedosos”.
A perseguição da igreja em relação às festividades populares se deu principalmente pela moral, pois as festas eram vistas como ambientes de pecados, embriaguez e luxuria, além de ocasiões de violência. Argumentava-se também que algumas recreações populares eram somente vaidade, desperdiçando tempo, dinheiro e desagradando a Deus.  “As peças, cantigas e sobre tudo as danças eram condenadas a despertar emoções perigosas e incitar fornicação”. ( p. 286)
Para alguns religiosos como “Erasmo” na igreja não dever-se-ia, pregar fazendo gestos ou conotações, mas sim comover por meio das emoções das palavras. William Perkins dizia que, não era conveniente que, os pregadores promovessem risos e gargalhadas em seus discursos.  E assim apresenta-se, dois estilos de vida, uma fundada na ética dos reformadores, na decência, modéstia, ordem, prudência, razão, autocontrole, sobriedade... e a outra fundada na tradicional, nos costumes que passam de geração para geração e divertimentos que reúnem grande parte do povo.
Outro conflito que ocorreu era relacionado aos dias santos pois a igreja católica defendia a ideia de que alguns dias eram mais santos do que outros. Os protestantes por sua vez, queriam abolir os feriados religiosos e suas festividades, além de criticar as imagens sagradas, que os católicos defendiam como ídolos. Em contrapartida, a igreja católica voltava a atacar o carnaval, argumentando que quem participava do carnaval não teria uma devoção adequada para guardar a quaresma. Com tais argumentos proibiam as pessoas de se vestirem com trajes de padres e proibiam o clero de participar das festas usando máscaras ou assistir peças e touradas.
Em meio a tantas contradições cabia aos devotos decidir qual seria a última palavra. Muitos costumes tradicionais foram abolidos entre os anos de 1500 e 1650 e a metade do século XVII foi considerada como término da primeira fase na reforma da cultura popular.
 A segunda etapa se caracteriza pela substituição do carnaval por outras atividades recreativas. Nessa linha, traduziu-se a Bíblia com uma linguagem simples e de fácil entendimento. Publicou-se também um livreto (catecismo) contendo informações importantes sobre a doutrina religiosa, em forma de perguntas e respostas para melhor fixação.
Entre o fim do século XVI e início do século XVII “a resistência da cultura popular começou a ceder, e ocorreram importantes transformações” (p. 313) como a “reforma dentro da reforma”. Os leigos começaram a impor mais suas idéias e os argumentos passaram a ter um papel indispensável. Ao longo dos anos as peças perderam sua importância, pois o povo se tornou mais letrado e os reformadores conseguiram impor a ideia de que o teatro é algo ilusório, portanto deixou-se de lado o sobrenatural.
Entre 1500 e 1800 houve uma grande expansão em relação ao comércio na Europa, no qual a divisão do trabalho vinha se aprofundando. Paralelo a isso ocorreu também a revolução nas comunicações. A forma dominante de empresas, era a pequena oficina, e não a fábrica, portanto sobrava mão de obra nas empresas, resultando em baixos salários e altos preços dos produtos nos supermercados.
 Por outro lado na Europa Ocidental houve um aumento quantitativo e qualitativo em relação à mobília e demais utensílios nas casa dos campesinos, resultado da transformação do modo de produção em massa, que diminuiu o valor dos produtos. É importante frizar que na Europa Oriental as pessoas andavam cada vez mais miseráveis, sendo alguns camponeses até escravizados.
Em meio a tantos acontecimentos a alfabetização também se desenvolveu, resultado das facilidades educacionais promovidas pelo movimento da reforma da cultura popular, porém, eram raras as cidades que possuíam uma biblioteca ou uma livraria. Quem levava os livros para as pessoas do interior eram os mascates (vendedores ambulantes). Outro problema era o valor, que superava o salário das pessoas. Um terceiro problema foi à questão do acesso lingüístico dos livretos impressos, pois apesar da linguagem simples, apresentavam problemas aos níveis da transformação cultural.
As transformações foram mais aditivas do que substitutivas. Elas procuram incrementar novos costumes, boas maneiras... Assim a população começou procurar ajuda na política e passou a associar essas idéias com suas necessidades próprias. Com o surgimento do jornal as informações passaram a circular mais rapidamente, aumentando assim, ainda mais o número de pessoas interessadas na política. Os analfabetos também podiam acompanhar as notícias, através das gravuras ou ouvindo os amigos lendo.
A reforma exigia que o clero fosse culto. Por isso, em 1800, grande parte dos nobres passaram a adotar maneiras mais polidas de agir, como por exemplo, aprender o falar e escrever ''corretamente''. Essas atitudes passaram a ser imitadas por advogados, funcionários públicos e comerciantes. Desvalorizando toda a cultura dos artesãos e demais pessoas ''comuns''.
As questões pretendidas pelos reformadores só foram alcançadas de fato quando os homens deixaram de levar as profecias a sério. Com isso também aumentou o número de pessoas que se interessava em pesquisar as festas populares como algo fascinante, o que até hoje pode ser usado como objeto de pesquisa. Portanto, no final do século XVIII, as pessoas começaram a perceber e ''admirar o povo'', através da pesquisa.

Autoras: Anisia, Elisa, Gabrielle, Kelly, Marlise, Micheli, e Paula Camila

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